Quando criança eu escutei a seguinte recomendação de meu tio:
– Não passe por trás de um cavalo, pois seu coice pode atingir até 1 metro!
Eu devia ter pouco mais de 8 anos, mas nunca esqueci daquela recomendação.
Na minha mente ficou a imagem de um cavalo atingindo com as patas traseiras pessoas que estavam passando por trás dele e decidi que jamais seria uma delas.
Por várias vezes mudei meu itinerário para evitar passar por trás daquele animal, cheguei a andar mais de uma quadra para não correr o risco de levar o tal coice.
Eu sabia o que era um cavalo, o que significava um coice e o que era 1 metro. Então o que fazia com que eu chegasse a desviar meu caminho em até 100 metros para não ser atingido pelo animal?
O meu enfoque emocional!
O conselho de meu tio deixou em mim uma reação emotiva – medo – que suplantou qualquer elucubração racional.
Passados muitos anos, eu já adulto, fui repassar o conselho de meu tio a meus filhos, quando de repente percebi que alguma coisa estava errada, não no conselho, mas na forma como eu encarara-o por todos aqueles anos.
Pela primeira vez analisei racionalmente o conselho.
– 1 metro? Essa não era uma distância assim tão longa, na realidade era até mesmo uma curta distância.
Percebi o quão irracional eu havia sido em desviar meu caminho em dezenas, as vezes uma centena de metros, quando 2 ou 3 metros teriam sido suficientes.
Bom, mas o que esta minha estupidez tem a ver com escopo, requisitos e funcionalidades?
– O fato de que raramente conseguimos agir de forma racional com estes três elementos.
Não temos dificuldades em saber o que são escopo, requisitos e muito menos funcionalidades, porém na hora de lidarmos com eles nosso padrão emocional, trata-os muitas vezes como se fossem a mesma coisa, e realmente não são.
Nosso padrão mental nos indica que quanto menos flexível for um escopo, menos alterações ele sofrerá e mais próximo do sucesso um projeto estará.
Quando na realidade, a definição de projeto nos leva a necessidade de escopo flexível para que ele venha ser eficiente e eficaz.
Com os requisitos (do escopo), assim como com as restrições, ocorre o mesmo, estes itens devem ser encarados como contextuais, por tanto sempre sujeitos a alterações, pois ao contrário dos processos operacionais, aqueles onde há o controle do contexto, com projetos o contexto não pode ser preestabelecido e muito menos controlado.
Isto ocorre pela simples inexperiência intrínseca a qualquer projeto – pois visa um resultado específico, com início e fim claramente identificados, ou seja, os contextos reais em projetos se apresentam no decorrer de seu desenvolvimento.
Já as funcionalidades sim precisam ser preservadas ao máximo, o escopo precisa ser flexível a fim de garantir a eficácia das funcionalidades que motivaram o surgimento do projeto.